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ARTIGO – O pó da estrada

Desde recém-formado, Enéas Athanázio gosta de viajar e de escrever. Em O Pó da Estrada, encontramos o jovem (1960), cheio de ideais, mas com o mesmo modo de ver o mundo atualmente (sempre jovem, sempre culto e bom), rumando para Campo Grande (Mato Grosso). Os detalhes necessários, a emoção contida, muito silêncio interior, captando a realidade, atento às pessoas e aos fatos. Um diário literário com comentários de época, oportunos, revelando conhecimento minucioso da vida brasileira. “Enfim, na Cidade Branca, hospedo-me no mesmo hotel em que os militares confinariam Jânio Quadros alguns anos depois.”

Costuma visitar pessoas ilustres, amigos, museus, monumentos, pinacotecas, com o mesmo carinho e espírito observador com que visita locais simples. No Rio Grande do Norte visita e revisita (anos mais tarde) a casa de Câmara Cascudo, mas também a Praia da Redinha, “reduto de pescadores, onde eles secam as redes, daí derivando o nome”.

Livrarias, naturalmente, têm seu apelo especial sobre o escritor Athanázio, que, na sua sabedoria, vai tramando bem seus relatos com dados culturais concernentes ao que conta. Espontaneamente brota a cultura entre as palavras do texto. “Leio um livro sobre Cascudo, trazido de Natal, e vejo um pouco de TV.”

Além do aprendizado pelas viagens, há a construção de laços de amizade vigorosos, como os do autor com o Estado do Piauí, tanto que chega a receber o título de Cidadão do Piauí, concedido pela Assembléia Legislativa, em 2006. Isso porque conhece, aprecia e divulga a cultura do chamado Meio-Norte.

Em Belo Horizonte, é visto, em uma foto, ladeado por escritores famosos, como Fernando Sabino, Otto Lara Rezende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino. Do que falariam esses poderosos da palavra?

Minas Gerais é visitada em 2007, mas o escritor já leva consigo a Minas Gerais de Rosa e de Palmério. E que mundo místico!

Mas há um mais doce olhar azul na seção Redescobrindo Santa Catarina. Começa em Piratuba. “Por volta do meio-dia ele (Vicente Telles) me convida para uma entrevista na emissora de rádio da cidade, a Voz do Contestado. Para lá nos dirigimos e fizemos um longo bate-papo no ar, dirigido aos ouvintes de Irani e região.”

A viagem continua: Chapecó, Joaçaba, Luzerna, Ibicaré, Tangará, Pinheiro

Preto, Videira, Rio das Antas, Caçador. Valoriza o Contestado, indo até o Cemitério “que contém túmulos muito antigos, que guardam os restos mortais dos caboclos anônimos, que pereceram no primeiro grande embate, aquele que deflagrou a Guerra do Contestado, em 22 de outubro de 1912”.

Ali imagina a cena dos exércitos em confronto, quando morre o Coronel Gualberto, “comandante das forças legais, e o monge José Maria, chefe dos revoltosos”.

Conta que o coronel prometia desfilar na rua XV de Novembro, em Curitiba, “com a caboclada xucra amarrada em cordas”.

Enéas passa por sua terra, Campos Novos, por Erval Velho, Treze Tílias e dirige-se para Calmon, terrinha de sua infância, onde vasculha todos os recantos. E depois, já em Porto União, comenta com certa melancolia e saudade, que no passado havia mais dinamismo, devido aos trens e aos barcos no Iguaçu.

Um perfil do autor em viagem é dado por ele mesmo: “Olho, observo e sinto até cansar.”



*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.

Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br

Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa nº. 2.004, e na edição on-line nº. 504 do Jornal Caiçara, de 18 de julho de 2008.

por: UNIUV

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