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ARTIGO – O conceito de gênero

 

O conceito de gênero quer levar em conta os aspectos social e histórico das diferenças físicas e biológicas entre os sexos.

Na gramática o gênero é critério de classificação de palavras em masculinas, femininas, sobrecomuns, comuns de dois gêneros e epicenos. Na Língua Portuguesa, embora no Latim houvesse o neutro, os gêneros são de base etimológica, o que era masculino no Latim continuou masculino no Português. Não há nada em objetos, por exemplo, que determine que tenham que ser masculinos ou femininos. Já para os seres vivos há a alguma identificação com o traço da sexualidade. Mas no caso dos sobrecomuns (criança, cônjuge, testemunha…) e dos epicenos (cobra, onça, mosca…) há um termo para os dois casos, isto é, não se leva em conta o caráter sexual. E muitas palavras têm uma única forma, sabendo-se que são masculinas ou femininas, pela concordância estabelecida (o colega e a colega, o pianista, a pianista).

O termo gênero, a partir de 1980, foi adotado pela sociologia, com referência a como a sociedade se organiza quanto aos papéis masculinos e femininos. Também a lingüística, a psicanálise, a psicologia, história e antropologia contribuíram para mostrar a influência cultural nos comportamentos, habilidades e competências considerados tipicamente masculinos ou femininos.

Esse conceito, como se percebe, valoriza mais os aspectos culturais que os biológicos. Homem e mulher são pensados como seres humanos biologicamente diferentes, mas que se diferenciam muito mais pela educação que recebem.

Com isso, reconhece-se a diversidade de modos de ser homem ou mulher, que não há um único modo de viver a masculinidade e a feminilidade, que as relações sociais entre homem e mulher não são simétricas, e que há entre eles uma relação de poder. Houve transformações sociais, que mudaram valores da organização social, abrangendo questões como a da heterossexualidade e a da homossexualidade.

O modo de ser, em cada gênero, vai sendo socialmente construído, assim como a mente humana é socialmente construída. Expectativas dos pais, pequenos gestos e palavras do dia a dia, leituras, podem ampliar o desempenho cognitivo das crianças, ou restringi-lo, conforme se aplique o conceito de gênero ou apenas de sexo, em sua classificação. Por exemplo, a partir do conceito de gênero, se um menino quisesse fazer pequenos artesanatos ou participar de brincadeiras e tipos de danças tradicionalmente consideradas femininos, não seria reprimido e desenvolveria sua criatividade com liberdade. No caso contrário, seria conduzido a participar das ações estereotipadas como próprias do sexo masculino.

Joan Scott, professora de Ciências Sociais no Instituto de Estudos Avançados em Princeton, afirma que “o gênero tem que ser redefinido e reestruturado em conjunção com uma visão de igualdade política e social que inclui não só o sexo, mas também a classe e a raça”.

As lutas das feministas, as conquistas sociais das mulheres, as novas possibilidades de acesso aos escalões mais altos do poder, o próprio conceito de família mostram que o termo gênero, mais abrangente, englobando homem e mulher, tem caráter social e histórico.

Assim como há palavras que permanecem, embora ampliando ou transformando seu sentido, outras são substituídas, para evitar confusões resultantes de teorias polêmicas diversas. A palavra educação, por exemplo, permanece embora seu significado no passado fosse diferente do de hoje.

Esse assunto ainda merece melhores explicitações, mas o que se quer é justificar o aparecimento mais freqüente do termo, em artigos de revistas e jornais, em itens de pesquisas aplicadas. Até pode ser visto como um eufemismo, para evitar preconceito, o que, hoje, é muito visado socialmente.

*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.

Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br

Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa nº. 2.010, e na edição on-line nº. 510 do Jornal Caiçara, de 29 de agosto de 2008.

por: UNIUV

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