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ARTIGO – Até um cabelo tem sua sombra

 

Há necessidade de cuidados especiais na colocação da vírgula, porque ela serve para separar as idéias, de forma que o texto seja preciso, coeso e coerente.

Um caso comum é a pessoa colocar a vírgula apenas para realce, até mesmo entre sujeito e predicado. Nesse caso está separando o que deveria estar junto, pois predicado é o que se diz do sujeito. Ex.: A casa, é de Pedro. Essa vírgula mal colocada prejudica a lógica de complementaridade das duas partes da frase.

Em geral, as vírgulas separam os adjuntos adverbiais, circunstâncias de tempo, lugar, modo. Assim: Todos estavam tranqüilos, quando um vento forte abriu as janelas.

Separando orações adverbiais, também se emprega a vírgula. Ex.: Embora doente, o jovem resolveu sair. Se fosse necessário, passaria a noite em claro. Chorou muito, porque perdeu excelente chance de trabalho.

Mas quando uma oração completar a outra, a vírgula não é aplicável. Ex.: Convém que reflitam muito. É necessário que cuidem da saúde. Tenho certeza de que podemos ser melhores.

Quando um elemento da frase está deslocado, também deve vir entre vírgulas, pois interrompe a oração iniciada. Ex.: João, que gosta de pintar, reuniu amigos para verem suas telas.

Evitar ambigüidade é função essencial da vírgula. Ex.: – Aceita esse cargo? – Aceito, obrigado. Ou: Aceito obrigado.

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) fez sua campanha de 100 anos de existência, com o lema: “ABI – 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula de sua informação.” E ilustra quanto vale esse pequeno sinal, com uns exemplos bem criativos: Não, espere. Não espere.

Aceito, obrigado. Aceito obrigado.

Não queremos saber. Não, queremos saber.

Ao finalizar esse texto, traz a frase a ser pontuada pelo leitor, como achar melhor, conforme seja homem ou mulher: Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de quatro a sua procura. (A vírgula pode ser colocada após mulher ou após tem). Em todos os casos, a vírgula muda a informação.

A vírgula pode indicar elemento oculto, anteriormente mencionado. Ex.: Eu trago flores; você, perfume. Quando as conjunções, pois, porém, contudo, entretanto estiverem deslocadas de sua posição normal, que é ligando as orações, deve haver a vírgula, caso contrário, não. Ela queria ir à praia, porém ele não gostava dessa forma de lazer. Ou: Ela queria ir à praia, ele, porém, não gostava dessa forma de lazer. Neste caso o porém fica entre vírgulas.

A vírgula separa os elementos paralelos de um provérbio: Quem tudo quer, tudo perde.

A pontuação não tem normas rígidas, vale transmitir a entoação, separar o que deve ser destacado, e principalmente, deixar bem claro o sentido do enunciado. Se não colocarmos as vírgulas, o leitor segue o ritmo acelerado da leitura e perde efeitos importantes de sentido ou acumula traços de sentido, pela falta das pausas de reflexão e destaque. Ex.: As pessoas levantam cedo saem de carro às pressas chegam ao trabalho abrem seus e-mails e em pouco tempo absortas com suas tarefas vêem chegar a hora da saída. Além do ritmo acelerado dado ao texto, a falta de vírgulas deixa margem a perguntas, como: O que é feito às pressas? Em pouco tempo refere-se a estarem absortas pelas tarefas ou a verem chegar a hora da saída? Ou essa rapidez é tomada para todas as ações?

À escrita pode-se aplicar o provérbio latino: “Até um cabelo tem sua sombra.”



*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.

Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br

Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa nº. 2.015, e na edição on-line nº. 515 do Jornal Caiçara, de 3 de outubro de 2008.

por: UNIUV

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