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ARTIGO – Um Dicionário Transdisciplinar e Lúdico


Walter Omar Kohan e Ingrid Müller Xavier organizaram uma obra muitíssimo interessante, chamada ABeCdário de criação filosófica, pela Autêntica Editora, de Belo Horizonte (2009).


A partir de algumas palavras, os autores deixam seu pensamento e conhecimento fluir, aprofundando a rede semântica possível, num emaranhado de associações literárias, plásticas, musicais, científicas, linguísticas, filosóficas plausíveis. Tudo em forma de texto, indo muito além do que seria um dicionário. Os próprios organizadores definem sua obra como “um exercício de escrita-pensamento, um convite, uma mão dada, um sorriso para outras escritas pensamentos”.


Só para o leitor ter uma ideia, são palavras ou realidades desse dicionário: âncora, barba, bola de sabão, cabelos, espelhos, et cetera, grão de areia, janela.


É um texto diferente, sem forma fixa, em que se explora tudo que se souber, com todos os conhecimentos que se tem, associando os termos às situações de vida, a olhares de filósofos, ao que dizem os poetas, às clássicas pinturas.


O texto “bola de sabão”, escrito por Gabriel Cid de Garcia, produtor cultural da Casa da Ciência da UFRJ, bacharel em Filosofia, Mestre em Literatura, professor de Estética, inicia com explicação de como se formam as bolas de sabão, de sua beleza ao sol, da causa de seu súbito rompimento.


Compara o fascínio por elas ao fascínio da humanidade pela esfera celeste e seus astros. Em passant, menciona matemáticos, astrônomos, filósofos, e sua concepção de universo.


Associa a bola de sabão, filosoficamente, ao efêmero, fugaz, pueril, gratuito. Lembra Fernando Pessoa, sob o heterônimo Alberto Caieiro e seu poema. Comenta como Pessoa se expande em outras personalidades. Menciona, ainda, um quadro de Manet, atmosfera lúdica que tem como imagem uma criança fazendo bolas de sabão.


“As bolas de sabão que esta criança/ Se entretém a largar de uma palhinha/ São translucidamente uma filosofia toda.

Claras, inúteis, e passageiras como a Natureza / Amigas dos olhos, como as cousas/ São aquilo que são/ Com uma precisão redondinha e aérea,/ E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa, / Pretende que elas são mais do que parecem ser. (…)”


Realça Gabriel Garcia que mal percebemos, às vezes, “a filosofia no poema, na vida, e só vamos percebê-la quando ultrapassamos as significações impostas para arriscar um olhar diferenciado…”


Assim, Caieiro passa do quadro de Manet a flores tocadas de leve pela brisa em um jardim possível, ampliando o cenário do menino na sacada, para um cenário mais amplo e existencial. É a aceitação irrestrita da vida e do que nela se oferece de sensível, delgado, belo e efêmero.


Essa obra despretensiosa, mas de muita qualidade e beleza, é uma jóia em mãos de professores de Filosofia, de Artes, ou de Língua Portuguesa. É indicada a todos que apreciam cultura complexa, mais simples, feita com amor e competência.


* Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), pmembro da Academia de Cultura Precursora da Expressão (Acupre), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv. Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br



Este texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, do Jornal Caiçara, de 12 de novembro de 2010.

por: UNIUV

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