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ARTIGO – Quantas desculpas há para não ler?


Nós somos modernos, ágeis; ler demora, é cansativo. Eu sofro de alergia (como se os autores mais antigos ainda estivessem na sua primeira edição, livros velhos, puro pó). As palavras são arcaicas, não entendo nada, não acho nada interessante. Só gosto de livros no estilo de Harry Potter (J.K. Rowling), ou, então, de Paulo Coelho. Eu estudo à tarde, não sobra tempo. Não leio nenhum autor nacional (pensando que todos são similares, talvez a Alencar, que era romântico). Não quero que ler  seja obrigação (mas nada de extraordinário acontece, salvo  que haja uma “febre” de leitura e comentário de algum autor best seller, de que haja filme, etc).


Como é difícil formar um leitor, quando o adolescente chega à escola sem esse pré-requisito, a prática da leitura, que deveria, e é, bem  iniciada nas séries iniciais, mas que vai fugindo um tanto ao controle, nas séries seguintes do Ensino Fundamental; ou realizada sem a ênfase e a motivação necessárias ao crescimento intelectual que exige leituras cada vez mais consistentes. A criança sai dos livrinhos fáceis, próprios para os pequenos e tem dificuldade de enfrentar as obras que tenham algumas páginas a mais e um conteúdo menos simplificado.


Se as pessoas sentissem, a cada livro lido, quanta  riqueza adquirem, em forma de conhecimento enciclopédico (aquele que levam na enciclopédia mental), quanto recurso linguístico e expressivo, quanta elevação espiritual e vontade de saber e de sentir e de pensar, fariam qualquer sacrifício para serem leitores assíduos dos bons e melhores livros.


Em vez de ânsia por bens materiais e visão egoísta ou estreita do mundo, passariam a ambicionar a formação do que há de melhor em si mesmas: sua personalidade, seu caráter, sua habilidade em conviver e em levar a seu meio algo bom, do que tenha cultivado em sua existência.


Sustentabilidade, cuidado com a natureza e com o outro ser humano, sensação de ser capaz de direcionar sua vida, com liberdade, sem omissão, seria o resultado de quem reflete costumeiramente. E a leitura é fonte de reflexão, de diálogo com o autor, de análise da realidade.


Não basta o acúmulo de conhecimentos, sem a condição ética, vinda de berço, e acrescida no decorrer da  caminhada estudantil e adulta. Sabe-se de muitos profissionais competentes envolvidos em falcatruas, em atos injustos ou nefastos, que direcionaram seu crescimento intelectual com foco na riqueza material, no parecer, no mostrar, em detrimento do ser e do contribuir para o bem comum e para a própria realização como ser humano.


Porém, a partir de famílias que dão muito valor à leitura, temos visto a formação de leitores, rapazes e moças, com a maior naturalidade. Jovens que aproveitam as horas vagas para apreciarem uma obra de seu interesse. Outros despertam, no decorrer do ensino superior, tendo a lucidez de sentir que ler  transforma seu modo de ser  e de viver. Todas as lacunas deixadas por um ensino deficitário podem ser preenchidas pelo conhecimento adquirido na companhia dos renomados autores. É impossível pensar nesse assunto, sem mencionar, em nossa região, o preclaro Apóstolo da Cultura, Padre Estêvão Hubert, que gastava seu precioso tempo, visitando escolas e dizendo, com a máxima clareza, que “cabeça não é porongo”, mas algo feito para pensar.


 


* Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi) e da Academia de Cultura Precursora da Expressão (Acupre), professora de Língua Portuguesa, no Colégio Técnico de União da Vitória (Coltec), e nos cursos de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv. Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br

por: UNIUV

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