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ARTIGO – Educação em primeiro lugar

Mona Mourshed, egípcia, estudiosa das mudanças produtivas em educação, doutora em desenvolvimento econômico, fez um estudo em vinte países, os mais bem sucedidos atualmente, entre eles, Cingapura, Coréia do Sul e Finlândia. Nesses países fez muitas entrevistas e visitas a escolas, e relata práticas que considera úteis aos outros países, como o Brasil.

Ela resume em sete os itens que merecem uma reflexão maior, por serem fundamentais a qualquer mudança:

– Competência. Esse critério de seleção de professores é bem radical, pois leva em conta até o currículo escolar pretérito do candidato a mestre, que deve estar entre os que tiverem as notas mais altas. E ainda são feitas entrevistas e provas teóricas e práticas avaliadas por especialistas. Os cursos de Educação são os mais exigentes no vestibular, ou melhor, na seleção dos candidatos. Com isso há economia de tempo e dinheiro, porque os profissionais são de alto nível, não precisarão de recorrentes reciclagens.

– Tutorias. Nos cursos de Pedagogia, os acadêmicos são tutorados, cada um deles, por um professor de sala de aula, experiente, também responsável pela formação e avaliação dos novos mestres. Na Inglaterra já é uma prática constante essa tutoria.

– Carreira atraente devido a um salário equiparado ao de outras profissões similares, e a aplicação do sistema meritocrático para ascensão profissional. Alguns países, para economizar, aumentaram o número de alunos por classe, considerando que esse aspecto possivelmente visto como negativo, seja anulado quando os professores e a escola trabalham com qualidade, como numa grande empresa.

– Os diretores são a chave da qualidade na escola, por isso são treinados, por meio de um MBA especializado, durante seis meses, em que aprendem técnicas de gestão e fazem estágio em grandes empresas, ao lado de executivos. Para serem aprovados passam ainda por avaliações próprias do ramo (construir metas, estimular trabalho em equipe, cobrar resultado…).

– Auditoria periódica nas escolas, forçando, se preciso, alteração de rumo de alguma disciplina ou trocando o diretor. Percebe-se que os critérios empresariais dominaram, nesses países, a educação. É um ponto bastante polêmico entre nós: seria correto pensar pessoas com os mesmos padrões industriais?

– A existência de um único currículo oficial, com metas claras e exigentes. Os currículos prescritivos ajudam muito, principalmente nos países em que ainda se tem a melhor qualidade de ensino.

-Professores especializados e mais bem pagos para ministrar aulas de reforço. E com ajuda de psicólogos, para os casos mais difíceis. Com isso é grande a economia, pois as reprovações custam caro. E o ensino melhora, porque o aluno com determinada dificuldade é atendido em particular.

A meu ver os itens essenciais sejam o de competência exigida e comprovada e o dos salários compatíveis com o compromisso social assumido. O fato de os cursos de Educação só aceitarem alunos que tenham tido notas altas nos boletins anteriores é fundamental, creio. Porém é natural que pessoas tão dedicadas, desde a juventude, queiram ter um status e salário compatíveis com uma profissão muito valorizada.

Mona Mourshed esteve em São Paulo, conversando com representantes do Ministério de Educação e Secretários de Educação. Quem sabe esses estudos inspirem a adoção de novos valores educacionais.

Ela não falou, especificamente, sobre o ensino nas séries iniciais, mas penso que os mestres nesse nível de ensino devem ser competentes e exigentes, de forma que o aluno realmente aprenda a ler, a interpretar, ouvir, pensar, resolver cálculos básicos com facilidade e desenvolva valores humanos indispensáveis à cidadania.

Uma revolução no ensino brasileiro parece distante, mas é preciso ir apertando o cerco nessa direção. É preciso ir mudando a mentalidade dos pais, da sociedade em geral e dos próprios estudantes, que levam o estudo sem muito comprometimento, embora esperem dele os melhores resultados futuros. Improvável.



*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.



Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br



Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa nº. 2.000, e na edição on-line nº. 500 do Jornal Caiçara, de 20 de junho de 2008.

por: UNIUV

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