Notícias
ARTIGO – Dicionário do coração
Ligo o telefone. Atende o marido, solícito. Digo-lhe que quero falar com Maria, sua esposa. E ouço-o chamá-la.
– Amor, a Fahena quer falar com você.
Essa senhora é casada há mais de dez anos, tem duas filhas. É profissional competente. Mas o que me chama a atenção é o tratamento dele para com ela: carinhoso, natural, costumeiro.
Fico feliz por ela.
É difícil imaginar a violência em um lar em que as palavras ternas têm espaço. Ser chamada de amor, com sinceridade, significa muito: paz, harmonia, confiança, diálogo, respeito, admiração, doçura…
Nessa casa, com certeza, todos são companheiros nas atividades do dia a dia. Todos se ajudam, com alegria. Quem sabe, até, o marido lave a louça, de vez em quando, ou explique as lições escolares aos filhos. De olhos fechados, posso vê-los passeando juntos, de mãos dadas, as crianças por perto, dando palpites. E o olhar de todos é um olhar feliz, amistoso, sorridente. Olhos que falam de um mundo interior pleno dos valores familiares duradouros e preciosos.
Um lar sem gritaria, sem palavras ásperas, sem medo. Como gostaria que cada família pudesse pesar, de alguma forma, o tratamento usado entre seus membros. Que observasse atentamente uns aos outros, trocando cumplicidades, em gestos, palavras e olhares, até no tom da voz…
Há variedades linguísticas próprias para cada situação social, por que não haver uma para o tratamento familiar? Se cada casal novo firmasse a decisão de purificar seu ambiente familiar, com a linguagem do amor, que é vasta, e deixá-lo isento dos jargões de outros grupos, em que impera a rivalidade, o egocentrismo e a ganância, pelo menos, poderia transmitir a seus filhos, uma nova mentalidade – a da civilização do amor.
Palavras doces, suaves, não podem atrair a perfídia, o engano, a mentira, a desconfiança, a droga, e tantas outras forças negativas que vêm aos borbotões, nas famílias que não se atêm ao detalhe de que a linguagem executa ações, forma visões de mundo, implanta valores. Palavras como: vagabundo, relaxado, incompetente, entre outras, são palavras perigosas: instilam, devagarinho, veneno na vida pessoal, familiar e, por extensão, na sociedade.
Que possamos transmitir paz a nossos queridos, a cada dia, em todo lugar. E busquemos na mente aquele repertório que está a nosso dispor, no dicionário do coração.
*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.
Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br
Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa nº. 2.032, e na edição on-line nº. 532 do Jornal Caiçara, de 6 de março de 2009.
por: UNIUV
0 comentários