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ARTIGO – Dificuldades da Língua Portuguesa correntes em textos de estudantes

De imediato, é possível constatar frases muito longas, sem a pontuação necessária. Repetição de termos, sem a preocupação de utilizar pronomes, sinônimos, palavras ou expressões equivalentes, que dariam mais coesão ao texto.

Além disso, percebe-se uma linguagem coloquial demais, com modismos como o tipo assim, o gerundismo – vou estar planejando, o mesmo – o mesmo será punido, e um uso indiscriminado da palavra onde, em vez de usar um verbo no gerúndio, um pronome relativo, ou uma conjunção conveniente.

Onde deveria ser empregado sempre que se referisse a lugar e, não, a situações de vida diária. Exemplo: Falta generosidade na sociedade, onde é preciso desenvolver esse princípio ético de cidadania. Seria melhor: Falta generosidade na sociedade, sendo preciso desenvolver esse princípio ético de cidadania.

Outro exemplo de mau emprego de onde: Houve manifestações no dia primeiro de maio, a favor de uma carga horária semanal de trabalho de 40 horas, onde os trabalhadores manifestaram sua posição sobre o assunto. Esse onde deveria ser substituído por em que (…em que os trabalhadores manifestaram…).

Na falta de um vocabulário especializado ou mais padrão, empregam-se expressões da fala, bem coloquiais, e entre aspas, como “correr atrás”, em vez de buscar ou procurar.

Invés de, no lugar de em vez de, também é comum. Invés de só se emprega em situações bem opostas, como entrar invés de sair. Nos demais casos, usa-se em vez de.

Ela estuda alemão, em vez de estudar inglês.

A vírgula é freqüentemente usada como recurso enfático, como se fosse uma pausa na fala para dar destaque, separando o sujeito do predicado ou o verbo de seus complementos. Ex.: Os empresários da região, estão cumprindo sua responsabilidade social, cuidando da natureza e do bem-estar das famílias de seus funcionários. Essa vírgula interrompe a sintaxe do enunciado. Como diz João Cabral de Melo Neto, interrompe as águas do rio que seguem seu curso, carregando o sentido do texto.

O verbo haver significando existir, que não tem sujeito e não poderia ter plural, aparece flexionado, como em: Houveram muitas reclamações. Deveria ser: Houve muitas reclamações. O mesmo se diga do verbo fazer referindo-se a tempo decorrido. Fazem anos que… não está certo, deveria ser: Faz anos que…

Para completar o quadro dos problemas mais comuns aos textos de estudantes de nossa região, falta acrescentar o através que deveria ser mediante ou por meio de. Ex.: É através dos jornais que ficamos informados sobre o que acontece no mundo. Através deveria referir-se apenas ao tempo ou ao ato de atravessar. Diga-se então: É por meio dos jornais que ficamos informados sobre o que acontece no mundo. Já, através dos séculos ou através da janela seriam expressões adequadas.

Nem vamos comentar aqui erros como achar com x, ou precisar com z. Como diz Boris Casói, “é uma vergonha!”

Sérgio Simka, em artigo recente na revista Discutindo Língua Portuguesa, afirma: “Se quiser fugir de um vexame lingüístico, não ser o próximo candidato na empresa ao seguro-desemprego, comece a dar importância à grafia das palavras.”

E fica mais um recado: para aprender é preciso querer, gastar tempo com o que valorizamos, consultar o dicionário, ler os bons autores, policiar sua forma de comunicação. É, mas a internet tem o corretor automático, alegarão alguns. Pois é, mas nem sempre esse mecanismo funciona, a começar pela seleção vocabular e pela tessitura textual.



*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.

Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br

Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa nº. 1.994, e na edição on-line nº. 494 do Jornal Caiçara, de 9 de maio de 2008.

por: UNIUV

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