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ARTIGO – Indícios Silenciosos



Os olhos, os rosto, o ritmo ao andar e a conversa, os tons de voz, a vestimenta e o calçado, a distância do interlocutor, os gestos com as mãos, com a cabeça, a postura corporal, até o espaço entre os interlocutores, fazem parte da eloquente imagem não verbal, acrescida, inconscientemente, à fala. São informações interessantes, incluindo o uso ou não de acessórios como cinto, bolsa, colares, o cuidado com as unhas, os maneirismos, a energia transmitida, a sinceridade ou a falta dela, o nível de confiança – tudo é passível de uma leitura avaliativa.

O olhar e o rosto da outra pessoa já oferecem algum significado; mas, ao olhar nos olhos, pode-se saber como a outra pessoa está-se sentindo e também que percebemos isso. Nada se esconde quando os olhos se encontram. “Esse olhar é o espelho da alma”, o “livro aberto”, como dizem. O jeito de olhar é uma forma sutil de expressão. Pode revelar sentimentos, atitudes, personalidades.

As mulheres, em geral, olham mais nos olhos que os homens. A atitude de desviar o olhar revela timidez, desejo de fugir à revelação do próprio eu, naquele momento, talvez, devido à condição hierárquica, ou na tentativa de esconder algum sentimento.

Os estudiosos dizem haver nove tipos de sorrisos, com diferentes mensagens, nem sempre associados a um rosto alegre. As expressões faciais podem ainda exprimir surpresa, choque, raiva, admiração, mágoa, paz. Contribuem também os movimentos com as sobrancelhas, ou com os lábios.

Sapir, linguista e antropólogo, afirma que: “Respondemos aos gestos de forma extremamente alerta, pode-se até dizer de acordo com um código elaborado, que não está escrito em parte alguma, não é conhecido por ninguém, mas compreendido por todos.”

A mímica facial, o olhar, os gestos dizem sobre o modo de ser da pessoa e sobre seu estado de espírito, isso num nível oculto. Estando a pessoa atenta ou não a esses gestos, a comunicação é registrada, e a reação vai ocorrer.

Freud observa que esse diálogo se dá entre os interlocutores, sem passar pelo consciente deles. Mas se a pessoa passar a prestar atenção a esses detalhes, vai aprender, conscientemente, a reagir a eles. Então, se o que se ouve e o que se capta pela visão coincidirem, provavelmente, estejam sendo mensagens sinceras. Assim, em uma reunião ou palestra, só pelos dados gestuais, é possível saber se as pessoas estão à vontade, se estão concordando com o que se propõe, se estão tensas ou em autodefesa.

Para Linkemer, as mãos são muito expressivas, seguindo o ritmo de vida da pessoa que fala. Mãos fechadas ou agitadas revelam tensão. São possíveis 700 mil sinais com as mãos, usando combinações com movimentos de braços, punhos e dedos, diz ele. É uma linguagem de sinais bem complexa. Para perceber melhor esse fator, basta tentar conversar sem mexer com os braços e com as mãos.

A postura do corpo é tão pessoal quanto o modo de assinar o nome. Somos capazes de reconhecer os amigos, de longe, por sua postura, pela maneira de andar ou de ficar de pé. Ela mostra um tanto do temperamento quanto da atitude da pessoa em relação às outras com quem fala.

Um especialista em movimentos corporais não lingüísticos, Condon, fala dos ritmos do corpo e que os movimentos durante a fala seguem esse ritmo. O interessante é que o ouvinte interage, em sincronia, num ritmo compartilhado. Para esse autor, sem esse ritmo, talvez fosse impossível comunicar-se.

Além dos gestos inconscientes e inatos, temos os aprendidos, como dar as mãos para cumprimentar, o espaço entre os falantes, a posição à mesa de reuniões, etc. Por isso é preciso conhecer a gestualidade de cada cultura, para não causar situações constrangedoras.

Enviar mensagens silenciosas é uma parte da comunicação; a outra é ler os indícios silenciosos. Por tudo isso, a conversa virtual não tem o mesmo calor que a presencial, nem os mesmos resultados. Nada como o fantástico ser humano, com suas mil e uma possibilidades de expressão.



*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.

Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br

Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa de 7 de agosto de 2009, do Jornal Caiçara.

por: UNIUV

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