Notícias

Inicial 9 Notícia 9 ARTIGO – O DARIZ, de Olivier Douzou

ARTIGO – O DARIZ, de Olivier Douzou



Olivier Douzou é um escritor francês, que recebeu o prêmio Baobab (2006). Muito criativo, parte sua história sobre o Nariz, após ler outra obra, de Nikolai Gogol, famoso escritor russo. Naquela história, um barbeiro, por engano, cortara o nariz de seu freguês e apresenta as peripécias desse ilustre homem, procurando reaver tão importante órgão de sua face.

Douzou, escreve essa narrativa interessante para crianças, em primeira pessoa, tendo como narrador um nariz, que diz ter encontrado um botão que pensava ser um nariz entupido. Como ambos estavam entupidos, partiram à procura de um lenço grande para assoar. Depois encontraram outro nariz, de palhaço, que mal podia inspirar o ar. Mais tarde, aparece um, pré-histórico, uma tromba, também entupida. Foram convidados a unir-se ao grupo em busca do lenço grande (Lenço Crande), que os salvaria.

A história é para ser lida, fechando um pouco as narinas, para criar o clima humorístico previsto e adequado, pois o autor substitui /t/ por /d/; /k/ por /g/; /s/ por /z/; /m/por /b/; /p/ por /b/; /ch/ por /j/; /n/ por /d/.

Então: “Engontrei um bodão gue bensava zer um dariz e falou:

– Dambém esdou endupido.”

“Falei:

_ Se esdamos endupidos, zó há uma goisa a fazer:engontrar um lenço e assoar.

E foi assim gue a hisdória cobeçou.”

Textos como esse fazem o leitor (no caso, criança) pensar sobre as pequenas diferenças entre os fonemas, o que, didaticamente, pode contribuir para o cuidado ortográfico.

“Guando agordei esta banhã esdava gombletamente endupido. Zaí bra domar ar.”

O professor de Língua Portuguesa pode explicar, nas séries do Ensino Fundamental ou Médio, as questões de ponto de articulação dos fonemas e seus traços distintivos, partindo desse livro. Sons surdos ou sonoros, fechados ou abertos, orais ou nasais, caixas de ressonância (papel dos lábios, língua, dentes, palato, fossas nasais), tudo isso pode ser bem explicitado, e de forma descontraída, com esse inusitado texto, que brinca, dando vida àquele botão, aos narizes e ao personagem Lenço Crande, que ajudaria a vencer o problema. “No cabinho engontramos dambém um focinho de borco, que disse estar endupido de tanto jafurdar na lama.”

Depois aparece, no caminho, o Binóquio, que os orientou em direção ao tal Lenço Crande, observando as “begadas enormes num campo”.

Essa obra trabalha também a intertextualidade, pois além de dialogar com o livro de Gogol (1835), pelo assunto, dialoga com a obra de Carlo Collodi, O Pinóquio, que dera informações erradas aos infelizes desnarigados, confundindo-os.

Douzou tem mais de 40 livros publicados, inspira-se em fotógrafos e poetas, criando em suas obras um universo peculiar. A história do Dariz termina, dando margem à imaginação de outra, em continuidade, pelo leitor. “Eu esdaba gombletamente desendubido, gomo se dão houvesse dariz.

– Dão bode zer, esdou sonmhando! – falei. Falei bor falar, devia der be galado.

Debois veio o bior.”

(Na verdade, o que acontece depois, vem na história de Gogol, que deu origem a esta.)



*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.

Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br

Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa de 21 de agosto de 2009, do Jornal Caiçara.

por: UNIUV

Shares

0 comentários

Categorias

Arquivo