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ARTIGO – O que pensamos sobre a valorização do idioma nacional?

A escola da primeira à nona série do Ensino Fundamental ensina a Língua Materna. No Ensino Médio continua esse aperfeiçoamento. E, no Ensino Superior, em geral, também há alguma forma de estudo de Língua Nacional, aplicada ao Curso que se faz. Sem se falar que a pessoa já aprende muito sobre a língua pelo uso diário, nos contextos em que circula. Descartes, o filósofo da razão, vê na linguagem uma capacidade que é diferencial do ser humano, capaz de pensar. Daí o “Penso, logo existo.” Pela linguagem o homem toma consciência de si e do mundo. Para esse filósofo, “a degradação do ensino da língua só pode resultar em degradação da formação da consciência.” Rousseau pensa que isso seria sinal evidente da queda social e política de um povo.

George Orwell, autor da Revolução dos Bichos, e de 1984, apresenta, nessa última obra, um personagem que planeja uma revolução, a partir da redução vocabular. O povo teria de se conformar em usar apenas palavras de sentido único, bem definido, e as outras, com o tempo seriam totalmente esquecidas. Essas seriam as indesejadas do Poder, como liberdade, vontade, aspirações… E conclui que “não haveria pensamento, porque ninguém precisaria pensar”. Seria um sistema de total dominação. Também foi esse o raciocínio dos imperadores da Áustria, Rússia e Prússia, ao implantarem um regime de governo, conhecido como “a Lei do Bronze”, em 1870, sob a qual os povos dominados eram mantidos longe de qualquer forma de educação e destinados ao trabalho braçal.

Quando um povo dominador quis manter o dominado em condição de inferioridade, proibiu-o de usar sua própria língua, em todos os contextos, até em família, acabou com as bibliotecas, e deixou-o em estado de servidão. Foi o que aconteceu com o povo ucraniano, durante certo tempo, sob o poder dos russos. Usurparam-lhes com a língua seus valores e tradições. Até que, por meio de literatos, foram alertados do que se passava, e levados a lutar por sua independência.

No Brasil também houve tempo em que os imigrantes não puderam empregar seu idioma de origem, entre seus compatriotas. Eram severamente punidos. O colonizador português impôs sua cultura aos indígenas, cuja língua e cultura passaram a ser subestimadas.

A língua é um dado socialmente construído, que está sempre se modificando, que possui muitas variedades regionais e jargões profissionais, além das gírias. A variedade de prestígio, para momentos solenes, é a variedade padrão, ou norma culta, a que se ensina na escola. É a mesma solicitada em concursos. Cabe aos usuários da língua escolher a variedade adequada ao contexto, conforme os interlocutores e seus objetivos.

Para ampliar o domínio linguístico convém ler bons autores. Com eles ampliamos nosso repertório vocabular e percebemos a riqueza de possibilidades de expressão do pensamento. As normas existem, mas sua flexibilização é muito rica e poderosa como estilo. Escritores e poetas estão sempre à procura de como burlar a norma estabelecida, sem ferir o sistema em si. É o trabalho artístico com a língua.

Reduzir a linguagem ao uso de rotina, sem explorar a criatividade possível, por ser mais fácil, é um critério empobrecedor, culturalmente. A literatura é a fonte agradável para todo aprendizado, tanto da língua quanto da condição humana.



*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.

Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br

Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa nº. 2.029, e na edição on-line nº. 529 do Jornal Caiçara, de 13 de fevereiro de 2009.

por: UNIUV

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