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ARTIGO – Plurais em excesso
O uso do plural tem sido aplicado com hipercorreção, isto é, com a intenção exagerada de acertar, acaba-se errando. Sabe-se que o masculino e o singular são as formas não-marcadas, que se aplicam tanto ao masculino quanto ao feminino, no primeiro caso; e tanto ao singular quanto ao plural, no segundo caso.
O feminino, marcado pelo –a, aplica-se apenas ao feminino; e o plural, marcado pelo –s, ao plural. Podemos dizer: prezados acadêmicos, referindo-nos a rapazes e moças; prezados pais, dirigindo-nos a pais e mães. Não é necessário dizer: prezados acadêmicos e prezadas acadêmicas; prezados pais e prezadas mães. É na verdade um exagero de expressão, tentando fazer um agrado especial à ala feminina, porém não é o preconizado na linguagem culta, em cerimoniais.
No caso de referência a cargos, profissões, funções, também basta o singular. Vejamos: Havia muitos candidatos a senador. Quantos candidatos a senador há? Ou: Quantas moças são candidatas a secretário? Quantas mulheres são candidatas a faxineiro?
Se colocássemos secretárias ou faxineiras, estaríamos supondo que o cargo está à disposição apenas de pessoas do gênero feminino.
Encontram-se, com freqüência, problemas de plural, em casos como: a mãe e a filha sofrem do coração (não, corações, como dizem). O uso do singular é justificado pela norma que estabelece que um nome pode estar em sentido distributivo a duas ou mais pessoas ou coisas e, nesse caso, deve ficar no singular. Ex.: O rapaz e a moça foram operados do fígado. Todos os membros da família têm a mesma forma do nariz (não, dos narizes). Elas responderam com a cabeça, dizendo que sim (não, cabeças). Queremos que nossa gratidão seja aceita por vocês, que nosso amor suavize sua vida (não, suas vidas).
O singular pode valer pelo plural, da mesma forma que o masculino refere-se também ao feminino. Ex.: É o jovem que deve combater a violência (não, as violências).
Em discursos e mensagens de formatura, os formandos costumam dirigir-se aos pais e às pessoas amadas, e a hipercorreção aparece. Ex.: […] A vocês, amores de nossas vidas, nosso sorriso, nosso carinho. […] estiveram presentes sempre em nossos pensamentos e corações. Nesses casos, devia ser pensada outra construção frasal, que manifestasse igualmente os sentimentos.
O substantivo tem ainda seu potencial expressivo. O plural dos substantivos pode expressar idéia de quantidade ou tamanho. Há palavras que no plural têm sentido diferente do seu singular. Ex.: “Perde-se o Brasil, Senhor, porque alguns ministros de Sua Majestade não vêm buscar nosso bem, vêm buscar os nossos bens.” (Vieira)
“Com o que, todo o mundo parado, formaram uns silêncios.” (G. Rosa)
A mudança de gênero, como recurso de estilo, acontece, em geral, quando caracteriza uma linguagem coloquial (entre amigos), no uso popular. Ex.: “O padre caminhando contra a onça, a onça caminhando contra o padre, os olhos deste, muitos azuis, pregados nos olhos verdes da demônia…” (M. Palmério)
Para efeitos estilísticos, até palavras invariáveis podem ser pluralizadas. Ex.: “…um desses nadas dos quais o coração faz um mundo novo e desconhecido.” (Alencar)
“Os elefantes deveriam ser assinzinhos – diz Lili.” (M. Quintana)
Enfim, vivamos os nossos hojes cultivando nossa língua, tão rica em possibilidades.
*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.
Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br
Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa nº. 2.034, e na edição on-line nº. 534 do Jornal Caiçara, de 20 de março de 2009.
por: UNIUV
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