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ARTIGO – Qual o segredo de um bom texto?

 

A gramática tradicional estuda a língua como um bloco monológico, objetivo e abstrato, existente na mente dos falantes. Para fins de estudo, deixa de lado as questões como variantes, gírias, mudanças decorrentes do contexto, do gênero, dos interlocutores e de sua intencionalidade.

Atualmente, com os estudos da língua em funcionamento, como produto social, a partir de Bakhtin e Ducrot, conhecer a língua envolve pesquisas das variedades, conforme nível cultural e social dos falantes.

Até a norma padrão, culta, engloba muitas formas de fala, advindas de fatores cientificamente explicáveis. E a reflexão sobre a língua é prática que permite ir além das aulas e trabalhá-la de forma inter e transdisciplinar.

Com essas análises vai-se verificar que a linguagem humana é sensível a aspectos geográficos, sociais, estilísticos, conforme a história de vida dos diferentes grupos de falantes.

Como diz Bakhtin, a nossa mente capta dados lingüísticos do meio em que vivemos. E esses dados, pela interação social, estão constantemente sendo reformulados.

Essa interação faz parte do ser humano, nós somos dialógicos e o que temos em mente é fruto das tantas interações que nos ligam uns aos outros. Por isso a linguagem é social. Desse ponto de vista, também não se pode pensar em separar, na expressão, conteúdo e forma. Eles são inseparáveis, e revelam as condições sociais do momento da enunciação.

Assim, conforme o contexto e condições da comunicação, há muito visível relação de sentido entre as palavras e a realidade. Isso inclui a escolha do gênero discursivo. Escrever um texto para jornal, não é o mesmo que escrevê-lo para uma revista ou para a internet. Logo, os meios de comunicação também são interferentes.

Para imaginar quantas vozes podem estar implicadas na produção de um texto, basta analisar a produção de uma peça publicitária. O cliente passa ao publicitário os dados de seu produto, e a quem pretende persuadir a que o adquira e o utilize com satisfação.

O publicitário vai visualizar esse cliente em potencial, a linguagem capaz de chamar sua atenção, as imagens e sentimentos adequados, levando em conta os acontecimentos do dia a dia da vida contemporânea. Se preciso, fará também pesquisas sobre esse interlocutor.

O autor do texto considera seu ouvinte ou leitor, bem como os outros discursos existentes, e usa elementos da língua, para conduzir sua argumentação. Usa os mas, embora, porque, pelo contrário, logo (operadores argumentativos), os pressupostos, intertextualidade, ironia, negação. Afinal, há muitos meios de expressar muitas vozes existentes em um texto (polifonia). Lembrando ainda os modalizadores: como, melhor dizendo, isto é, ou melhor, como diz o ditado, etc.

Por tudo isso, produzir um texto exige planejamento e reflexão, escolha intencional do gênero, do léxico e dos recursos de expressão. Um edital, por exemplo, não comporta termos conotativos, em que o interlocutor tenha margem para tirar outras conclusões além do que está escrito. A publicidade usa recursos poéticos a seu favor.

Assim, os textos, como as pessoas, têm seus segredos, e por ser a língua um fato social esse segredo é bastante complexo. Então, quando um texto é bom? Creio que seja quando cumprir bem sua missão, atingindo os objetivos almejados, como qualquer outro produto social, como a moda, as artes, os cardápios.



*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.

Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br

Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa nº. 2.018, e na edição on-line nº. 518 do Jornal Caiçara, de 24 de outubro de 2008.

por: UNIUV

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