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ARTIGO – Ameaçada como um cão, na rua…



No passado, quando um filho se sentia ameaçado, subia a uma árvore, ou se escondia embaixo da casa, no porão, num cantinho bem apertado. E dali, negociava com o pai ou a mãe: “Só saio, se não apanhar. As horas iam passando e as falas eram sempre as mesmas. Até que os pais acabavam aceitando o acordo, posição conciliatória, no diálogo. Isso, quando um olhar severo, um tom de voz diferente, já não lembravam ao filho que lhes deviam respeito. No tempo da vara de marmelo, da bainha de facão, da cinta, do chinelo. E hoje? Alguns dão liberdade demais. Outros, de menos.

Uma cena de medo, ou melhor, de pavor. Um menino pequeno, de uns 9 anos de idade, correndo entre os carros estacionados e alguém gritando: Venha cá! Venha cá!

Ouço os gritos em frente à livraria e vou até a porta. O menino corre entre os carros estacionados, fugindo do homem de bicicleta, que, nervoso, o chama, aos brados. Pergunto ao menino, quando para, por um instante, bem na minha frente, na dúvida sobre para onde ir:

_ Quem é ele?

_ É meu pai.

_ Por que você não o atende?

_ Ele vai me bater.

Ao homem, interrogo:

_ O que aconteceu?

_ Ele não me obedece. Está há 2 dias fora de casa.

Nesse ínterim, o menino atravessa a rua, sem olhar para o sinaleiro aberto, passa, como um relâmpago, para o outro lado.

O pai vira a bicicleta num ímpeto, sem a menor precaução, e vai na mesma direção, pela calçada, gesto que lembra um caçador, sem se importar se atropelaria alguém. Seu intento era alcançar o pequeno apavorado filho.

Fico atônita, diante disso tudo. Pobre criança! Pobre pai!  Pai jovem, mas, que, por algum motivo, perdera a autoridade perante o menino. E penso em todos os medos que assolam a vida dos homens: medo de apanhar, de acidentes, de doenças, de desemprego, de ver um filho envolvido em vícios. Medo das calamidades. Medo das guerras. Medo da morte.

Mas a família, que pena! Esse devia ser o lugar da confiança, do diálogo, do aconchego. Da disciplina sem excessos, do amor sem frouxidão.  Por que um filho precisa fugir de casa? Marginalizar-se? Perder-se num mundo sem calor humano?

Ou, ser perseguido e ameaçado, como um cão, na rua… Como isso é triste! De quem esse menino correrá ao crescer? Por que, de novo terá de ser perseguido e ameaçado?



*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.

Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br

Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa nº. 2.025, e na edição on-line nº. 525 do Jornal Caiçara, de 12 de dezembro de 2008.

por: UNIUV

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