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ARTIGO – A família ampliada e o amor
Quando alguém perde seu amor, tornando-se viúvo, seja homem ou mulher, naturalmente sofre demais pela ausência da pessoa amada. Ele(a) era quase sempre a resposta a suas perguntas mais existenciais, o eco de seu viver, seu correspondente afetivo contínuo, de certa forma, seu alter ego. Porque os casais, depois de um tempo, já não se pensam como indivíduos isolados, mas sempre como dois. Todos os planos sempre foram feitos a dois, tudo fora dialogado, até aquele dia em que um deles se despediu definitivamente.
Dali em diante, é que essa pessoa, fragilizada, carece da presença amorosa dos familiares, ajudando-a a superar a dor sofrida, e a lacuna deixada pelo que partiu, com o qual costumava partilhar todos os sentimentos, intenções, estados de espírito, dúvidas, frustrações…
Também os amigos, confrades, vizinhos, membros da igreja e colegas de trabalho precisam estar atentos a esse seu papel, de solidariedade, de apoio, de um simples ouvir, visitar, convidar para alguma atividade.
Principalmente os parentes do falecido(a), os chamados parentes emprestados (genro, sogra, cunhados e familiares) precisam continuar acolhendo, ainda com mais carinho, aquela pessoa que um dia fora recebido(a) com vivas e festejos entre os seus.
“Só eu sei o que estou passando. Só eu e Deus. Nunca imaginei que os parentes me abandonariam, como se eu é que tivesse morrido.” Em lágrimas, afirma isso uma conhecida.
A solidão pode tomar conta da pessoa, que continua trabalhando, aparentemente, como antes, mas para quem, na verdade, nada mais é igual. E o relacionamento do trabalho em si não é suficiente para devolver a paz. Há necessidade de aconchego, de reconhecimento, de carinho, de disponibilidade. Sem os outros, aquele quadro forte de amizades, a recuperação pode ser lenta demais, ou sobrevir a amargura, o estresse.
A morte em si é tão natural e bela quanto o nascer. É prevista, embora sem data marcada. Pela lógica, nada há de extraordinário, morrer é parte da vida. Do ponto de vista da fé, também. Sabemos que se morre para este mundo, apenas, mas que voltamos ao Pai. Logo, não haveria motivo para tristezas.
Mas, seres humanos, carregados de anos de vida comum, afeiçoados ao riso, aos pequenos comentários a todo instante, mesmo cheios de fé, mesmo conscientes dessa condição humana, somos abalados pelas perdas. Uns mais, outros menos.
Conversei com uma colega que perdeu há pouco seu marido. Diz ela que é como se ele estivesse o tempo todo junto, vivo.
E quando, em algum momento, surge uma questão a ser resolvida, ela e os filhos se entreolham e, naturalmente, um deles afirma o que o pai diria na circunstância.
Outros, não sabemos como, afirmam receber sinais concretos (ruídos em papéis, passos, brisa, etc) da presença do(a) falecido(a), com quem convivem espiritualmente.
De qualquer forma, é uma dor muito grande, que inspirou o poeta Allan Poe a escrever O Corvo: o pássaro agoureiro a repetir ao homem sozinho em sua saudade a dolorosa expressão “nunca mais”.
Para Vinícius, no entanto, essa não é a maior solidão. “A maior solidão é a do ser que não ama […], do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.”
* Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv. Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br
Este texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, do Jornal Caiçara, de 26 de novembro de 2010.
por: UNIUV
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