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ARTIGO – A leitura que transforma
Um conto do cubano que viveu na Itália, Ítalo Calvino, demonstra a preocupação da humanidade com essa prática, que parece inócua, mas que fascina e transforma, dando renovado sentido à vida.
Um General na Biblioteca relata a história de um general e seus subalternos, que receberam ordens para averiguar que livros poderiam ser lidos pelos militares, inspirando-os a ser os heróis desejados. Deixariam essas obras carimbadas. Para tanto, retiraram do local os funcionários e tomaram conta dele, orientados apenas por um velhinho que sabia o lugar de todos os livros, Crispino. Dividiram os temas e lançaram-se à leitura; quando queriam escrever seu parecer sobre algum deles, para melhor elucidar a questão, o bom velho trazia outros livros e mostrava outros pontos de vista sobre o assunto. Curiosos e gostando de aprender, os árbitros passavam horas discutindo sobre os mais variados conteúdos. E foram tomando gosto pelo novo trabalho…
Ao apresentarem o relatório, na data estabelecida, o general e seus 4 oficiais falavam com veemência, citando autores, como quem descobre novos pontos de vista, e que mereciam ser conhecidos. O supremo comandante, súbito, com voz firme fê-los parar. Alegando que estavam um tanto esgotados pelo trabalho, mandou-os para a reserva. E eram “vistos à paisana, frequentemente, entrando na velha biblioteca, onde esperava por eles o senhor Crispino com seus livros.”
Se o livro tem tanto poder, ameaçando impérios, se escritores e pensadores são perseguidos em tempos difíceis, é que a leitura transforma o indivíduo, que descobre, cada vez mais, um pouco de si mesmo e da humanidade.
O leitor sabe o que quer ler e acha tempo para isso, porque no livro pulsa vida. Sente que após cada leitura, ou mesmo antes de ter acabado, está reestruturando algo muito particular, sua visão de mundo. Fala-se tanto em crise de valores, de muitas incertezas… Não seria a revitalização da prática da boa leitura uma forma de dar um sentido novo à vida?
É essa capacidade de a leitura abrir horizontes de visão de mundo, sem limites, mais e mais, que explica a paixão pelos livros que a tantos domina. A escolha da obra pelo proveito do valor que nela possa conter e a partilha deles com as outras pessoas justifica a criação das bibliotecas. É interessante pensar que enquanto as obras científicas e tecnológicas separam as pessoas, conforme sua especialidade, a literatura é integradora, une a sociedade, é unificadora da cultura. Nos melhores romances, qualquer pessoa, independentemente de raça, condição social, religiosidade ou ideologia política, percebe a grande verdade, da igualdade entre todos os seres humanos. Eles nos ensinam a ver quem somos e como somos.
Uma sociedade livre precisa de cidadãos livres intelectualmente, críticos, responsáveis e criativos. É essa liberdade que nos permite analisar o mundo e tentar mudá-lo para melhor.
*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.
Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br
Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa nº. 2.036, de 3 de março de 2009.
por: UNIUV
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