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ARTIGO – De Pessoa a pessoa
Fernando Pessoa, com o poema Mar Português, permite-nos, por analogia, refletir sobre as grandes conquistas de nossa vida. Lembra ele os sacrifícios do povo português para que se descobrissem as novas rotas marítimas:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!”
As saudades, as separações definitivas, a morte, foram o preço da aventura…
E a nossa vida? Será plana, rasa, sem vôos ou alturas? Sem perigos, sem inseguranças? Não seria pequenina demais, indigna de um ser humano?
É impossível uma vitória sem os sacrifícios que a antecederam. E quem quiser apenas o lado fácil ou divertido da realidade acabará por perder as verdadeiras alegrias e a razão de viver.
“Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.”
Com esses versos, Pessoa resume o caminho da vitória – sofrido, de luta contínua contra obstáculos, sem perda de vista dos objetivos principais. Como diz Gonçalves Dias:
“A vida é combate
Que os fracos abate
Os fortes, os bravos,
Só pode exaltar.”
O apóstolo Paulo também tem essa mesma visão: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé.” Revela a alegria de ter cumprido sua missão neste mundo.
A satisfação resultante das conquistas alcançadas com pesados esforços aflora naturalmente, a cada pequena conquista. O músico, o atleta, o pintor, o inventor, o escritor, o pai e a mãe de família, o lavrador, o poeta, o estudante, o missionário, o cientista, que não aceitaram algum tipo de esforços, de limites, de sacrifícios, ao longo do tempo, não terão a alegria da realização pessoal, da certeza de ter um sentido de vida. Novamente com Pessoa, podemos refletir:
“Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”
É ainda desse poeta a reflexão: “Não quero gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.”
O que dizer ao jovem de hoje, em uma época de transitoriedades e leves alianças, causas portáteis, e breves amores?
O ser humano, em qualquer tempo e lugar aspira à transcendência, à elevação espiritual, a um bem maior, e sua vida ganha sentido, se aprende a realizar, a cada dia, com sinceridade, o melhor de si.
Estudante, estude; estude de verdade. Não poupe suas horas de estudo. Isso é trabalho, é ofício, é o caminho rumo a sua edificação pessoal, para ter algo de melhor a oferecer, com amor, aos demais.
Busque no silêncio, na reflexão, no diálogo, na gratuidade disponível de si, algo de bom que já pode ir construindo a seu redor, no momento presente. E, com isso, traçando, também, o seu futuro, digno, justo e feliz.
*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.
Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br
Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa de 10 de junlo de 2009, do Jornal Caiçara.
por: UNIUV
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