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ARTIGO – Escrever não é um ato burocrático
Para produzir um texto, sem receio, é preciso, de antemão, conhecer bem o assunto, pela observação da realidade e pela reflexão. Depois, buscar textos, dados estatísticos, fatos, para ampliar a visão inicial. E tornar a refletir sobre essas informações e a própria experiência. Com isso, chega-se a um ponto de vista sobre o que se quer analisar.
Revistas as informações com que se vai elaborar o texto, passa-se a traçar um plano de escrita, tantas vezes quantas forem necessárias: a sequência das ideias, gráficos, argumentos e fatos que comprovam o que vamos dizer.
Algumas pessoas preparam um mapa mental, tendo o tema ao centro, e os ramos e sub-ramos, como um campo semântico associativo.
Outras escrevem o texto com todas as ideias que lhe importam no assunto, recortam-no por parágrafos e montam a sequência que lhes convém. Aí vão reescrevendo seu texto, até ficar como desejam. Como se nota, escrever não é um ato burocrático, não há formas fixas, é um ato criativo.
Um método comum de iniciar a escrita é ir colocando no papel as ideias que vierem à mente, até chegar ao último parágrafo (quando o ponto de vista encontra-se mais maduro), abandonar o restante e fazer das ideias da conclusão o parágrafo inicial. Dali em diante, planejar como ampliá-lo, para convencer o interlocutor. Esse é um tipo de improviso.
Se a pessoa se prepara bem para escrever, a folha de papel não lhe causa sofrimento algum, mas um apelo a um trabalho com a língua, com habilidade e bom gosto. Não é prática apenas para escritores ou jornalistas. Advogados, professores, médicos, dentistas, filósofos, psicólogos, afinal, todas as categorias profissionais têm sua revista especializada, e podem contribuir com seu conhecimento, em forma de artigos científicos. E, se forem pesquisadores dedicados, podem, ainda, publicar seus livros.
É claro que o gênero textual, o veículo, o público-alvo e o assunto vão modelar, de certa forma, o texto, mas isso não impede que se revele o modo pessoal de expressão.
Os literatos, em geral, costumam pensar muito, até formar, na mente, uma trama forte da narrativa ou do poema. Esse processo pode demorar, mas seu cérebro está trabalhando até enquanto dormem. Ao escreverem, depois, o pensamento flui com facilidade, com os recursos de estilo e vocabulário adequados, compensando o tempo empenhado na invenção.
É de Herberto Sales (1917-1999), jornalista e escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, o seguinte depoimento: ”Eu não acredito em espontaneidade no ato da criação, espontaneidade é o resultado do esforço que o escritor faz para aparentar que escreveu sem esforço.”
E Marcos Rey, escritor, dramaturgo, roteirista, autor de telenovelas, afirma que as boas histórias não são totalmente imaginadas, “nascem do poço da memória, e sempre ligadas a nossas experiências mais íntimas e essenciais. Nascem do mergulho no grande oceano do inconsciente.” E completa dizendo que, caso contrário, as histórias “permanecem no domínio exclusivo das palavras […], não têm longa vida.”
“O escritor deve ser um arquiteto, precisa ter a planta de seu conto ou romance antes de dar o tiro de partida. Aliás, esse é o grande mal da literatura brasileira, o improviso”, afirma Rey. Essa lição vale para qualquer tipo de texto, mesmo dos mais formatados, como uma ata, ou comunicado.
* Mestre em Linguística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi) e da Academia de Cultura Precursora da Expressão (Acupre), professora de Língua Portuguesa, no Colégio Técnico de União da Vitória (Coltec), e nos cursos de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv. Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br
por: UNIUV
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