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ARTIGO – Monólogo, diálogo, ou conversa?
Somente quando aprendem a conversar as pessoas começam a ser iguais. Conversar exige que os interlocutores sintam-se livres para dizer o que sentem e sabem, sem usar sua influência, como autoridade, para inibir o outro. Ela não é mero jogo de etiquetas e de frases previsíveis. O critério fundamental é que cada um tenha suas opiniões, tenha algo a dizer, idéias a trocar e, desse modo, ir ratificando ou alterando seus posicionamentos.
Sócrates achava que as pessoas falariam, se alguém perguntasse, fizesse o “parto” das idéias, facilitando sua expressão. Mas conversar espontaneamente tem outro sabor, inclusive a humildade e a sabedoria de que sempre estamos aprendendo com a outra pessoa.
As pessoas são um mistério e, por isso mesmo, vale a pena conversar com elas. É das diferenças que vem a beleza dessa conversa. Os temas podem ser os mais variados, basta ser um ouvinte sincero, curioso, sensível.
Quando as pessoas moravam longe umas das outras e o contato entre os vizinhos era raro, falar era-lhes penoso. Não sentiam a mesma sensação de quem vive na cidade e já percebeu a riqueza da troca de informações. Falavam pausado, mais silêncio que palavras. E na Idade Média, quando as mulheres eram cortejadas por poetas, músicos, intelectuais, membros da corte, era uma conversa cheia de protocolos e previsível.
Na França, começaram a aparecer, mais tarde, círculos de pessoas talentosas, que se reuniam sob uma liderança capaz de organizar o diálogo. Eram pequenos grupos de pessoas convidadas, não pelo destaque social, mas por sua cultura ou porque com elas a conversa tinha mais fluência.
Como ali participavam homens e mulheres, não havia constrangimento nem “fofocas”, o relacionamento melhorou. As pessoas eram incentivadas a se manter a par dos fatos novos da literatura, ciências, arte, política, etiqueta. E as mulheres que coordenavam esses salões não precisavam ser especialistas nessas disciplinas. Com isso, aquele caráter pesado, próprio das conversas entre os homens, em que um queria sobrepor seus conhecimentos sobre os dos outros, de forma um tanto agressiva, foram sendo substituídos por uma conversa séria, mas despreocupada, com emoção, sinceridade e polidez.
Com o tempo, esse tipo de conversa foi ficando monótono, e as pessoas que quisessem uma conversa mais particular começaram a utilizar a correspondência escrita.
Na verdade, conversar não é fácil, envolve interesses comuns, temperamento, empatia e compreensão do outro, mas é necessário. Nas famílias modernas há pouco tempo para conversas entre si, e mesmo no trabalho com os colegas, quase não há ocasião para conversas fora do contexto. Mas as conversas previstas e com pauta, não satisfazem. É preciso aprender a conversar, para o próprio bem-estar e crescimento pessoal.
*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.
Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br
Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa nº. 2.011, e na edição on-line nº. 511 do Jornal Caiçara, de 5 de setembro de 2008.
por: UNIUV
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