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ARTIGO – Temos mesmo uma sociedade do espetáculo, como diz Debord?
Guy Debord, filósofo, diretor de cinema, definia-se como “doutor em nada” e pensador radical, escreveu um livro, Sociedade do Espetáculo, precursor de toda análise crítica da moderna sociedade de consumo.
Essa obra mostra uma realidade, cada vez mais visível, sobre como a sociedade contemporânea, com o progresso da tecnologia e com a globalização, e o avanço do capitalismo, foi transferindo a experiência de vida, o apreço da realidade em si, para uma projeção de felicidade, a partir da representação dessa realidade, para o mundo das imagens. O fato em si deixa de ter um brilho maior, se não for apresentado com muitas luzes e cores, para o maior público possível.
Assim surgem os novos programas de televisão, as celebridades emergem e vão, aos poucos, dando lugar a outras. E o que não se vê, é como se não existisse.
Até os espaços de viagens de lazer e o que se mostra sobre eles são antecipadamente estudados e recortados para serem oferecidos em pacotes, com tempo e espaço delimitados e alguém que seja porta-voz daquilo que se está vivenciando.
Os meios de comunicação social, naturalmente, vão representar os fatos e escrever sobre eles, com o enfoque ou ênfase que lhes convier, chegando por vezes a excessos. O Carnaval está mudado? Está mesmo maravilhoso? Ou há algum problema oculto? Poucos vão querer saber sobre isso, pois o que importa são os elogios, as palmas, o brilho fugaz e a colocação atribuída, com critérios de quem entende do assunto. Muitas fotos, muitos vídeos, muita publicidade, muitos convidados…
As falas sobre os corruptos têm tempo contado, e caem logo no esquecimento. São tantos casos, que já se tornara, “normais”. Tudo é atenuado, a culpa é descaracterizada, a justiça parece que já foi feita. “O que nunca foi punido torna-se permitido. Havia escândalo, mas já não há”, afirma Debord.
Se somarmos as observações de Debord ao quadro apresentado por Bauman, em Amor Líquido, e à noção de Império do Efêmero e à de Era do Vazio, do individualismo contemporâneo, segundo Lipovetsky, sentimos que estamos numa fase ruim, carente de transformações difíceis de ocorrer.
Para Gilles Lipovetsky, o mundo vive o fenômeno que ele chama de “hipermodernidade” – que define a “situação paradoxal da sociedade contemporânea, dividida entre a cultura do excesso e o elogio da moderação”.
Tudo isso gera inquietação, mas não autoriza a prever o pior, que seria descrer da capacidade de autocrítica e de autocorreção da sociedade. O futuro da humanidade continua aberto, posto que nesse ambiente cresce a necessidade de unidade, de segurança, de identidade comunitária. Nem todos os valores humanos foram lançados fora. Está com os pais e com os professores, com os artistas, com aqueles que dão primazia ao amor, superar as distorções deste mundo, com esperança.
* Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), membro da Academia de Cultura Precursora da Expressão (Acupre), professora de Língua e Literatura nos cursos de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv. Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br
Este texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa de 26 de fevereiro de 2010, do Jornal Caiçara.
por: UNIUV
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