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ARTIGO – Uma história íntima da humanidade

É possível fazer uma história diferente, muito próxima à vida, repleta de relatos de vida, e, a seguir, analisada com perspicácia e visão de conjunto da vida da humanidade.

Theodore Zeldin é um historiador inglês, um pensador extraordinário, catedrático em Oxford. Sua obra, Uma história íntima da humanidade (Rio de Janeiro: Best Bolso, 2008) conta com vinte e cinco capítulos, em que focaliza temas: como as pessoas perdem ou renovam esperanças; como aprenderam, através do tempo, a ter conversas interessantes, a enxergar longe e com profundidade; como algumas se tornaram imunes à solidão; como novas formas de amor foram inventadas…

Assim, as questões mais centrais da existência da humanidade são tratadas com cientificidade e leveza.

É interessante como parece ver a alma da humanidade em contínua mudança e o porquê desse fato, em cada caso.

As questões propostas têm um enfoque diferente do tradicional, por exemplo, “como o respeito se tornou mais desejável que o poder” ou “como a curiosidade se tornou a chave da liberdade”. O texto é bem o de um historiador moderno, que valoriza as falas, ricas em emoção e vida. Acompanhemos esta parte, para apreciar a linguagem: “Quando foi eleita prefeita, com 38 anos, sua filha lhe disse: – Você queria ser prefeita há muito tempo e nunca me disse.” Ela respondeu: “Eu não sabia que era isso o que desejava.” Mas uma amiga ponderou: “Você não pode fingir que se tornou prefeita por acidente. Não percebe, então, que desejou o cargo esse tempo todo?” “Não”, disse Catherine Trautmann, “eu não percebi isso”. Não é fácil saber o que se anseia. Ela pergunta a si mesma: “Qual o meu objetivo, agora que sou prefeita?” Não há resposta simples.

A partir desse questionamento ela vai refletindo sobre sua vida em família e que um dos primeiros motivos que a fez pensar em ser política foi não ter achado uma creche para suas filhas.

As reflexões conduzirão a um tempo em que todos queriam mandar, ser o rei, ter poder. Depois, mais importante que o poder passou a ser o respeito, o que não se podia exigir, mas conquistar. E que a maioria das pessoas gostaria de receber mais. Começa na família, em que laços de afeto e respeito mútuo são mais considerados que o número de filhos. Era um novo olhar, lidar com pessoas como animais domesticados já passou.

E assim segue Zeldin mostrando que o respeito, no caso, não requer chefes, mas mediadores, árbitros, conselheiros, os tecedores da paz.

Como diz o próprio Zeldin, seu livro não conta a história como é contada nos museus, mas trata “sobre o que não fica parado, sobre o passado que ainda está vivo na mente das pessoas hoje.”

Ler essa história é conhecer melhor a pessoa humana em seu processo reflexivo e afetivo através dos séculos.

*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.

Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail
prof.fahena@uniuv.edu.br

Esse texto foi originalmente publicado na coluna
Questões de Estilo, da edição impressa nº. 1.996, e na edição on-line nº. 496 do Jornal Caiçara, de 23 de maio de 2008.

por: UNIUV

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